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Banco da Suíça investe 20% das riquezas do país em empresas tecnológicas estrangeiras

Grupo NCN+


Em uma estratégia única de política monetária, o tradicional Banco Nacional da Suíça (BNS), equivalente ao Banco Central do Brasil, se transformou em um dos maiores investidores do Vale do Silício. A instituição hoje detém uma carteira de ações de tecnologia que equivale a quase 20% de toda a economia suíça.

Os investimentos são de US$ 167 bilhões aplicados em mais de 2.300 empresas estadunidenses. Desse total, mais de US$ 42 bilhões estão concentrados em apenas cinco: Amazon, Apple, Meta, Microsoft e Nvidia. A aposta é expressiva, com o BNS aportando só na Nvidia mais de US$ 11 bilhões, enquanto a participação na Apple beira os US$ 10 bilhões.

A atuação do Banco Nacional da Suíça é bem diferente de outro bancos centrais porque a instituição tem uma formação única. O BNS não é vinculado ao governo central suíço, e, sim, aos cantões, semelhante aos estados brasileiros, mas com autonomia quase absoluta. Um parte do banco é controlada pelos governo locais e a outra por investidores privados. O banco, inclusive, é listado na Bolsa de Valores de Zurique. Isso faz com que o BNS se comporte como um fundo de investimentos.

Outro fator que leva a essa atuação é a força do franco suíço, moeda do país. Considerada um porto seguro em tempos de crise, a unidade monetária se valoriza constantemente, o que ameaça sufocar a economia local ao encarecer as exportações e gerar risco de deflação.

Para combater esse fenômeno, o BNS adota a política expansionista de imprimir dinheiro para comprar moedas estrangeiras, principalmente dólares e euros, inundando o mercado e enfraquecendo a cotação da própria moeda. Com um volume de recursos que o pequeno mercado do Tesouro Suíço não consegue absorver, o banco passou a investir esses recursos em ativos no exterior. Assim, o que começou como uma medida de controle cambial acabou transformando a instituição em um dos maiores acionistas das gigantes de tecnologia dos EUA.

Apesar da filosofia de ser um investidor passivo, sem interferir na gestão das empresas, o banco suíço não fica letárgico. Nos últimos anos, por exemplo, ele multiplicou por seis sua participação na Nvidia e montou uma posição de mais de US$ 2 bilhões na Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, na qual. antes, não possuía ações.

Essa estratégia, no entanto, não vem sem riscos e críticas. A forte exposição ao volátil mercado de tecnologia já causou perdas bilionárias ao banco em 2022 e 2023. No primeiro semestre deste ano, um novo prejuízo de 15,3 bilhões de francos suíços (cerca de R$ 100 bilhões) acendeu o alerta, em grande parte devido à desvalorização de mais de 15% do dólar.

Enquanto alguns políticos e analistas na Suíça pedem uma revisão do modelo, temendo uma bolha no setor de tecnologia, o BNS argumenta que a alternativa de criar um fundo soberano estaria exposta aos mesmos riscos. Por enquanto, a instituição segue com o plano, tentando se equilibrar entre o dever de proteger a economia suíça e o papel de ser uma das maiores investidoras do Vale do Silício.


Foto: Banque Nationale Suisse (BNS)
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