O nome da juíza foi escolhido por um grupo na plataforma Discord com cerca de 140 mil membros.
A ex-presidente da Suprema Corte do Nepal, Sushila Karki, foi nomeada primeira-ministra interina do país nesta sexta-feira (14), após uma semana de intensas negociações com o exército e jovens manifestantes anti-governo. A nomeação busca encerrar uma crise política instigada por protestos violentos que resultaram em mais de 70 mortes.
A onda de manifestações foi motivada por uma proibição governamental a importantes redes sociais e levou à renúncia do então premiê, KP Sharma Oli, na quarta-feira (12), depois que sua residência pessoal e prédios do governo foram incendiados.
Karki, a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra na história do Nepal, tomou posse em uma cerimônia na capital, Katmandu. A expectativa é que ela solicite a dissolução do parlamento e convoque novas eleições gerais em até seis meses. O nome da juíza foi escolhido por um grupo na plataforma Discord com cerca de 140 mil membros. O presidente acatou a sugestão pelo fórum ser composto pelos principais organizadores dos protestos que levaram a uma antiga primeira-dama do país a ser queimada viva na própria casa.
A nomeação foi uma demanda central do movimento de protesto, formado majoritariamente por jovens e apelidado de "Geração Z". Os manifestantes pressionaram o presidente Ramchandra Paudel por uma liderança de transição que não tivesse vínculos com os partidos políticos tradicionais, temendo que a revolução fosse revertida ou que houvesse um retorno da monarquia autocrática, deposta em 2008. Karki era vista por eles como uma figura "empática", "gentil" e "não corrupta".
Apesar de ser vista como uma solução para acalmar as tensões imediatas, a nomeação de Karki levanta sérias questões constitucionais. Advogados e analistas políticos descrevem a situação como um "vácuo constitucional", apontando que a constituição nepalesa proíbe que membros aposentados do Supremo Tribunal Federal assumam cargos no governo. Segundo especialistas, não há nenhuma cláusula que preveja este cenário específico, tornando a medida "completamente sem precedentes".
Foto: Gabinete da Presidência do Nepal
