O Congresso do Peru aprovou na madrugada de quinta para sexta-feira (10) a destituição da presidenta Dina Boluarte, em um processo expresso motivado pela alegada incapacidade de conter a grave onda de violência que atinge o país. A decisão foi tomada com o apoio crucial de partidos de direita e do fujimorismo, que até então sustentavam seu governo. Boluarte se recusou a comparecer ao Congresso para se defender, considerando o procedimento "inconstitucional".
O estopim para a queda da presidente foi um atentado contra a popular banda de cúmbia Agua Marina na noite de quarta-feira, durante uma apresentação em um recinto militar, onde quatro integrantes do grupo foram baleados. O episódio cristalizou a percepção de que o governo havia perdido o controle da segurança pública, levando o partido Renovação Popular, do prefeito ultraconservador de Lima, Rafael López Aliaga, a apresentar a moção de vacância por "incapacidade moral permanente".
A queda de Boluarte foi selada pela mudança de lado de seus antigos aliados. O voto do Força Popular, partido liderado por Keiko Fujimori, foi decisivo e, ao longo do dia, outras bancadas importantes, como a Aliança para o Progresso, aderiram ao movimento, resultando em quatro moções de destituição presidencial protocoladas. Curiosamente, a presidenta não caiu pelos escândalos anteriores: como a repressão violenta que deixou 50 mortos em manifestações, o caso dos relógios de luxo ou o abandono secreto do cargo para realizar uma cirurgia plástica, mas sim pela crise de criminalidade.
Boluarte, que assumiu o poder em dezembro de 2022 após a tentativa fracassada de autogolpe de Pedro Castillo, deixa um legado de baixa popularidade (apenas 2% de aproação) e controvérsias. O mandato foi marcado por crises diplomáticas com México e Colômbia, e a promulgação de uma polêmica lei de anistia que beneficia militares acusados de violações de direitos humanos.
Com sua saída, o Peru aprofunda sua crônica instabilidade política, preparando-se para ter o sétimo presidente nos últimos nove anos. Quem assume o cargo é o presidente do Congresso, José Jerí, um político que também enfrenta escândalos, incluindo uma denúncia de estupro que foi arquivada recentemente pela Promotoria. O país, que já possui uma prisão exclusiva para ex-governantes, pode ver Boluarte se tornar a próxima a ocupá-la, embora haja especulações de que ela possa pedir asilo na embaixada do Equador.
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