Uma incursão militar israelense na cidade de Beit Jinn, no sul da Síria, resultou na morte de pelo menos 13 moradores, incluindo várias crianças, na madrugada desta sexta-feira (28). O episódio é considerado um dos mais letais desde que Israel passou a ocupar e realizar operações regulares em partes do território sírio no final do ano passado.
Testemunhas, socorristas e familiares das vítimas descreveram um cenário de guerra, com bombardeios aéreos e invasões domiciliares. Já as Forças de Defesa de Israel (FDI) declararam que a operação visava militantes e que houve uma "troca de tiros" que deixou soldados israelenses feridos.
Segundo relatos de moradores, a operação começou no final da noite de quinta-feira com uma patrulha israelense cercando a cidade, seguida por buscas de casa em casa.
"Os soldados começaram a atirar quando os moradores se recusaram a deixá-los entrar nas casas", disse Raef Qabalan, 44 anos. Segundo ele, alguns habitantes de Beit Jinn pegaram em armas e "dispararam de volta para se defender".
Com o início do confronto em solo, a força aérea israelense interveio. Caças, helicópteros e drones bombardearam a área, atingindo residências civis. Shadi al-Hassan, chefe da defesa civil na região, afirmou à agência estatal de notícias da Síria que as ambulâncias foram impedidas de entrar na cidade por horas e que as aeronaves israelenses alvejavam "tudo o que se movia".
Versões conflitantes
No entanto, a população local contesta a versão oficial. Entre os mortos estão duas meninas, de 4 e 17 anos, e um menino de 10 anos.
Em um hospital em Damasco, Khalil Abu Dhaher, 49 anos, relatou o momento em que sua casa foi alvejada enquanto tentava proteger a família. Sua filha Heba, de 17 anos, foi morta, e a irmã dela, Hoda, de 9 anos, ficou ferida. "O tiroteio parecia mirar diretamente em nós", disse.Outra família, os Hamada, perdeu cinco membros quando munições israelenses atingiram sua residência. Qassem Hamada, 67 anos, chorava a morte de dois filhos, uma nora e dois netos — Qassem, de 10 anos, e Shahad, de 4.
Todos foram enterrados na tarde de sexta-feira em Beit Jinn, em um funeral marcado pela revolta de dezenas de moradores. Um jipe israelense destruído durante os combates permaneceu na cidade como
vestígio do confronto.
Contexto geopolítico
O ataque ocorre em um momento de extrema fragilidade na região. Israel invadiu partes do sul da Síria em dezembro de 2024, pouco depois que forças rebeldes lideradas por Ahmed al-Sharaa derrubaram o governo de Bashar al-Assad. O novo regime é aliado dos estadunidenses, com o presidente sírio tendo visitado a Casa Branca na última semana.
Desde então, Israel estabeleceu bases no que antes era uma zona de amortecimento monitorada pela ONU na província de Quneitra. O governo de Netanyahu alega que as operações são defensivas. Contudo, o novo presidente sírio, Ahmed al-Sharaa, tem criticado duramente a política israelense, classificando-a como expansionista e desestabilizadora.
O Ministério das Relações Exteriores da Síria chamou o ataque a Beit Jinn de "crime de guerra em grande escala". Enquanto isso, meses de negociações mediadas pelos Estados Unidos para um pacto de segurança entre os dois países permanecem estagnadas, sem resultados práticos para diminuir a violência na fronteira.
Foto: Washington Post
