A peça central do debate é um orçamento que propõe quase dobrar o déficit do país para R$ 292 bilhões. O aumento expressivo nos gastos tem como objetivo principal blindar a economia contra as tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, além de apoiar iniciativas de defesa e habitação.
"É hora de trabalharmos juntos para cumprir este plano – para proteger nossas comunidades, capacitar os canadenses com novas oportunidades e construir um Canadá forte", declarou o líder canadense.
O premiê de centro-esquerda, que foi presidente do Banco Central do Canadá e da Inglaterra, defende que o aumento do déficit é essencial para amortecer o impacto do aumento de imposto de importação promovido pelos estadunidenses contra produtos canadenses. Segundo Carney, previsões internas indicam que "as tarifas estadunidenses e a incerteza associada custarão aos canadenses cerca de 1,8% do nosso PIB". Embora a maior parte do comércio bilateral permaneça isenta de tarifas, as taxas dos EUA sobre automóveis, aço e alumínio atingiram setores importantes da economia do país Norte Americano.
O cenário político permanece tenso. O Partido Conservador, liderado por Pierre Poilievre, criticou duramente os planos de gastos, rotulando o pacote fiscal de "orçamento de cartão de crédito". Poilievre, no entanto, enfrenta divisões internas desde a derrota eleitoral e passará por uma reavaliação pelos seus correligionários da sua liderança no início do próximo ano.
Já o Novo Partido Democrático (NDP), de inclinação à esquerda dos Liberais, expressou preocupações de que a proposta não aborda adequadamente o desemprego, a crise habitacional e o custo de vida. Contudo, dois de seus deputados se abstiveram, garantindo a sobrevivência do governo. O líder interino do NDP, Don Davies, justificou a manobra afirmando que bloquear o orçamento empurraria o país para um ciclo eleitoral indesejado "enquanto ainda enfrentamos uma ameaça existencial do governo Trump".
O Ministro da Fazenda, François-Philippe Champagne, celebrou o resultado, afirmando que os parlamentares "decidiram colocar o Canadá em primeiro lugar".
A decisão reflete o sentimento público. Uma pesquisa de novembro da empresa de análise Leger apontou que apenas um em cada cinco entrevistados apoiava eleições imediatas, enquanto metade se disse satisfeita com a liderança de Carney, que foi eleito para um mandato de quatro anos em abril com a promessa de desafiar a guinada protecionista de Washington.
Imagem: Canadian Brodcast Company (CBC)
